domingo, 7 de abril de 2013

‘Sairia do Pânico se me colocassem na geladeira’, diz Ceará

Wellington Muniz, mais conhecido como Ceará, saiu de Fortaleza, sua cidade natal, para fazer um teste na Jovem Pan em 1997. Se integrou à equipe do ‘Pânico’ e não saiu mais de lá. Mesmo declarando amor eterno ao grupo que o tornou conhecido, o humorista, que completou 40 anos de vida recentemente, diz que abandonaria o programa da Band caso o deixassem na “geladeira”. No bate-papo, ele conta que um outro fator o motivaria a deixar a atração: a possibilidade de comandar um programa de auditório. Na entrevista, Ceará fala de algumas brigas nos bastidores do ‘Pânico na Band’, do personagem Silvio Santos e de sua mulher, Mirella Santos, que, segundo ele, sofreu retaliação na RedeTV! depois da saída do humorístico.


Como foi a sua infância?
Fui muito bem educado, agradeço muito aos meus pais. Meu pai me inspirou tanto para ser humorista quanto para ser um cara trabalhador. Ele era policial e arrendou um táxi para trabalhar na madrugada e complementar a renda de casa. Isso é um exemplo para mim. Quando comecei a querer ser humorista, tive que trabalhar muito. Queria trabalhar em rádio, mas fui reprovado em três testes.

E como foi a sua ida para São Paulo?
Eu fazia um personagem que era um velho radialista, Aberaldo Barbosa, na rádio de Fortaleza. A Jovem Pan soube do quadro de humor que estávamos fazendo e me convidou para um teste em São Paulo.

Como foi o teste?
Ligaram o microfone e me mandaram improvisar durante meia hora. Depois, disseram que iam me ligar. Passaram-se duas semanas e nada. Quase dois meses depois, eu estava assinando contrato com eles. Vou ser grato à Jovem Pan para o resto da minha vida.

O ‘Pânico’ é um programa que revolucionou o humor brasileiro?
Em setembro, a gente já vai fazer dez anos de ‘Pânico’ na televisão. O ‘Pânico’ na TV era um sonho do Tutinha (dono da marca ‘Pânico’). Ele foi com o projeto debaixo do braço apresentar para a RedeTV!. Começamos com pouca verba, não tinha salário e o tempo para dar certo na televisão era bem curto.

Não tinha salário?!?
Tinha uma verba que a gente ia conseguir com patrocinador, mas antes não tinha uma estrutura, era um microfone com fio e uma câmera.

E você não pensou em abandonar a ideia?
Poxa, tive que me adaptar a uma cidade com uma cultura diferente, com um clima diferente, vim de Fortaleza, que era outra coisa. Não ia desistir do trabalho, encaramos a missão.

Foi difícil se livrar do Silvio (Santos, personagem mais conhecido de Ceará)?
Não me preocupo em me livrar dele, não. Agradeço ao público por ter dado certo. Só não quero ficar dez anos com o mesmo personagem.

Você ficou decepcionado com a proibição de imitar o apresentador?
Toda imitação que eu faço é uma forma de homenagem, até porque faço laboratório, estudo trejeitos, leio sobre a vida da pessoa… Não entendi a proibição, mas não fiquei chateado. Humor não é feito para agradar.

Tem relação com o fato de vocês terem ido para a Band e não para o SBT?
Muita gente acreditou nisso porque não demos prioridade ao SBT quando saímos da RedeTV!. É verdade que o Silvio queria o ‘Pânico’ e até chegou a nos visitar na rádio.

É verdade que houve uma briga entre você e o Rodrigo Scarpa (Repórter Vesgo)?
Eu queria fazer novos quadros, isso foi em 2009. Conversei com o Rodrigo (os dois faziam a dupla Silvio e Repórter Vesgo) e com o Alan (Rapp, diretor do ‘Pânico’). Nunca houve briga, Rodrigo é meu amigo pessoal, frequenta a minha casa.

Você gostaria de ter um programa só seu?
Tenho 40 anos, acho que não dá para trocar o certo pelo duvidoso, tenho meu contrato e vou honrá-lo. Mas gostaria de ter um programa de auditório, no estilo do Luciano Huck, do Faustão ou do Rodrigo Faro. Tive oportunidades, mas achei que não era o momento.

Foi quando o ‘Pânico’ saiu da RedeTV! e a emissora tentou te segurar lá, né?
Sim, mas hoje eu tenho certeza de que tomei a decisão certa.
E era um programa nos moldes do americano ‘Saturday Night Live’.
Esse perfil não vai comigo, eu não iria aceitar um programa nesses moldes. Queria um programa com plateia, atrações no palco. Se um dia rolar a oportunidade e eu achar bacana…

A RedeTV! te ofereceu muita grana?
A grana era muito maior, mas não aceitei pela lealdade. E que os donos (da emissora) não se sintam ofendidos, mas eles estavam numa crise bem complicada. A verdade é que o que mais pesou foi que eu não queria abandonar meus companheiros do ‘Pânico’.

E logo depois que você foi para a Band, saiu uma notícia de uma briga sua com o Alan (Rapp, diretor).
Ele queria um personagem no palco, eu não queria. Houve, sim, uma briga, uma discussão, mas sem agressões. Eu, Emílio (Surita, apresentador) e o Alan nos trancamos numa sala e resolvemos o problema ali mesmo.

Houve um momento em que você se sentiu desconfortável no ‘Pânico’. É normal isso acontecer?
Acho que é normal. Se você pensar bem, um cantor, por exemplo, faz um sucesso e volta depois de dois anos com um trabalho novo. Nosso caso é mais complicado, não tem esse intervalo longo. Passei por um momento no qual tive dificuldade de fazer alguma coisa. Me senti um pouco reprimido, mas não por pressão.

Agora é o momento da sua volta por cima?
Quero dar prestígio e audiência ao ‘Pânico’ e, modéstia à parte, o programa tem tudo isso.

Você acha que na Band as coisas são melhores? A liberdade é a mesma?
Cada emissora tem seu estilo de trabalhar. A Band é uma das melhores emissoras do país, já tem uma estrutura de como fazer televisão.

Mas o ‘Pânico’ ficou menos ácido?
Estamos envelhecendo, mas continuamos fazendo as mesmas coisas. A cabeça continua como a daqueles caras no início da carreira. Para mim, é muito prazeroso ter 40 anos e me comunicar com um jovem de 14.

Mas vocês perseguem menos os artistas agora…
A gente está sempre buscando outras vertentes, outras pautas para o programa. Mas ainda tem celebridades, sim, isso nunca vai acabar.

Humorista é sempre mal- humorado?
Eu acordo tranquilo, não trato ninguém mal. Já acordo pensando em bobagem, no que vamos fazer no programa. Essa é a vantagem de fazer o que a gente gosta.

O sucesso te subiu à cabeça no início?
Tem gente que se deslumbra mesmo. Tem artista que reclama porque agora o celular tem câmera e o fã incomoda. Mas eu faço TV para essas pessoas, tenho o pé no chão e sei que sou igual a todo mundo. Sucesso você tem hoje e pode não ter amanhã. Carreira é diferente, ela tem altos e baixos, e você tem que mantê-la. Tem muita gente querendo ser famosa sem se preocupar com a continuidade do trabalho.

O início da sua carreira foi difícil?
Aos 16 anos, eu disse ao meu pai que não queria mais fazer o curso de tornearia mecânica que estava fazendo, que queria ser humorista, apresentador, conhecido em todo o Brasil. Mesmo me achando o cara mais sem graça, sei que Deus não escolhe os capacitados, ele capacita os escolhidos. Hoje, posso dizer que o ‘Pânico’ é o melhor programa de humor que conheço.

E fora o ‘Pânico’, qual é o melhor?
Não vou fazer propaganda de outro (risos). Eu vejo o ‘CQC’, que acho muito bom, tem muita coisa boa na internet também, mas, de um modo geral, tem público para tudo. O controle remoto é democrático.

Como foi a decisão de casar com a Mirella Santos?
A gente começou a namorar e a Mirella nunca deixou de correr atrás dos sonhos dela. É isso que eu sempre admirei. Mas nunca pensei que voltaria a me casar.

Você não quis ter filhos no primeiro casamento?
Eu quis, sim.

Com a Mirella você quer?
Sim. Trigêmeos.

A Mirela saiu da Rede TV! logo depois da saída do ‘Pânico’. Foi retaliação da emissora?
Acho que foi retaliação, sim. E injusta. Ela conquistou o espaço dela lá e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Agora, ela está buscando novos caminhos, fazendo um curso de comentarista de esporte.

Você se incomoda pelo fato de ela ser sexy symbol e você ter que ouvir piadinhas sobre o Latino?
Não posso me incomodar, sou humorista. Ela tem o passado dela como eu tenho o meu passado. E já não ouço tanta piada, é uma página virada (a relação de Mirella com Latino).

Você conhece o Latino?
Ele já deu uma entrevista na Jovem Pan.

O que te faria deixar o ‘Pânico’?
A TV é uma vitrine, acho que me deixar afastado do programa, me desmotivar, seria muito ruim. Eu sairia se me deixassem na geladeira. Se não acreditam em mim, como é que eu mesmo vou acreditar?

A que personagem você é grato?
Eu tenho uma gratidão enorme pelo Silvio, que me tornou conhecido do grande público.

Você se incomoda quando o imitado não gosta do personagem que você fez?
É bacana quando a pessoa aprova, é bacana quando o público aprova. Se o imitado não gosta, não chego a ficar incomodado, não. Continuo imitando enquanto tiver autorização da pessoa.

O que você quer para o seu futuro?
Ah, eu sempre quis muito mais. Se eu fosse ser um bicho, queria ser uma águia pra sempre enxergar à frente. Quero continuar tendo espaço na televisão e colocando meus projetos em prática.

As informações são da coluna do Léo Dias

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